O Azeite sempre esteve presente nos recantos da vida diária dos portugueses: na candeia do pobre e no candelabro do rico, na mesa frugal do camponês e nos solenes templos de velhos cultos.
Mítico, bíblico, romanesco e histórico, "o Azeite vem sempre ao de cima". Enfrentou a nova verdade dos mercados seletivos e deixou de ser simplesmente o Azeite, para adotar o berço de uma origem e assumir a identidade de uma marca.
Em Portugal, a cultura da Oliveira perde-se nos mais remotos tempos. Segundo rezam as crónicas, os Visigodos já a deviam ter herdado dos Romanos e estes, possivelmente, tinham-na encontrado na Península Ibérica. Por sua vez, os Árabes mantiveram a cultura e fizeram-na prosperar, sendo que a palavra Azeite tem origem no vocábulo árabe al-zait, que significava "sumo de azeitona".
De fato, as primeiras manifestações da importância da cultura da oliveira em Portugal aparecem nas províncias onde a reconquista cristã mais tardiamente se realizou. É assim que os primeiros forais que se referem à produção olivícola dizem respeito às províncias portuguesas da Estremadura e do Alentejo.
Até finais de século XII, em Portugal, não é mencionada a cultura da oliveira nem o interesse económico da sua produção. Contudo, no século XIII, o Azeite já ocupa um lugar importante no comércio externo português, posição que manterá posteriormente, podendo afirmar-se que esta gordura era um produto muito abundante na Idade Média.
Mais tarde, são as ordens religiosas que, com o seu papel na revitalização da agricultura, dedicam especial atenção a fabricação do Azeite. O "óleo sagrado" vai ter uma importância fundamental na economia do Convento de Santa Cruz de Coimbra, do Mosteiro de Alcobaça, da Ordem dos Freires de Cristo, da Ordem do Templo e da Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Resistente à seca, de fácil adaptação aos terrenos pedregosos, a oliveira tornou-se numa presença constante na agricultura portuguesa.
Eng. António Manuel Monteiro escreveu a interessante obra «A Oliveira», editada por João Azevedo Editor em 1999. Possui um capítulo dedicado à oliveira e os seus produtos na cultura popular, que é o que ora nos importa e do qual vamos recolher alguma informação.
Segundo António Monteiro em Trás-os-Montes o povo sempre gostou de dançar nas segadas, nas vindimas, nos momentos de lazer e nas festas religiosas. Ao azeite e à oliveira estão ligadas quadras, poemas, adágios, adivinhas, toponímia e medicina.
A mitologia sempre atribuiu à oliveira virtualidades e qualidades medicinais, alimentares, económicas, proféticas e sagradas.
As azeitonas verdes aguçavam o apetite e eram excelentes para os dentes enquanto as pretas era, segundo Plínio, adversas ao estômago mas boas para o ventre. Os heróis da Grécia consumiam imenso azeite, óleo divino. Untavam o corpo para conservarem a sua beleza imortal. Os romanos usavam-nos também como cosmético para fortalecer o cabelo e para lhe dar um aspecto oleoso e brilhante e amaciar os músculos fatigados.
Para os cristãos, na Roma Antiga, era o óleo santo que davam aos moribundos, como sinal da vida eterna.
Aníbal ordenou aos seus soldados que se untassem com azeite para a travessia dos Alpes a fim de aquecerem o corpo. Catão aconselhava o uso do azeite de azeitona preta para tratamento das úlceras da boca e para todas as doenças dos animais.
Existem várias rezas para as trovoadas, os olhos, os maus-olhados, o exorcismo, a cura, etc, em que se utiliza o azeite e os ramos da oliveira.
Segundo a crença popular as azeitonas não se podem mudar quando as mulheres andam com o período porque se estragam; quando se vaza azeite é mau sinal; vinho derramado na toalha da mesa é sinal de alegria e o azeite de tristeza; se uma rapariga puser três azeitonas pretas no mesmo pezinho debaixo do travesseiro, nessa noite sonha com o rapaz com quem vai casar; se falarmos à luz da candeia que vimos um ninho em certo lugar, as cobras vão lá a comem os passarinhos.
Existem alcunhas individuais ligadas à oliveira e ao azeite como o Joaquim Azeiteiro, o José da Talha, a Adelaide Lentisca, o Jacinto Alcaparra, a Alice Galheteiro, etc. Alguns termos do glossário olivícola foram-se assumindo ao longo dos tempos na toponímia e, sobretudo, nos apelidos de inúmeras famílias: Caldeira, Capacho, Oliveira, Caroço, Cordovil, Madural, Vara, Verdeal, etc.
Como não podia deixar de ser existem variados ditos populares ligados ao tema:
☼ A azeitona e a fortuna, às vezes muitas, às vezes nenhuma.
☼ A azeitona é como as formigas: às vezes muita e outras nenhuma.
☼ A azeitona, pelo São Mateus, já alumia Deus.
☼ Azeite, dai-mo à ceia e tirar-mo à candeia.
☼ Azeite de cima, mel do fundo, vinho do meio.
☼ Azeite de cima, vinho do meio e mel do fundo, não enganam o mundo.
☼ Azeite de oliva o mal cura.
☼ Azeite de oliva todo o mal tira.
☼ Azeite e verdade vêm sempre à tona.
☼ Azeite no chão, sinal de paixão.
☼ Azeite, vinho e amigo, (prefere) o mais antigo.
☼ Azeite, vinho e amigo, melhor o antigo.
☼ Azeitona com pão alvo é comida de fidalgo.
☼ Azeitona cordovil, quem a comer morrerá.
☼ Azeitona e riqueza, às vezes muita e às vezes magreza.
☼ O azeite e a verdade andam sempre ao de cima.
☼ O azeite é meio serralheiro.
☼ O azeite quer-se bem medido e mal escorrido.
☼ O azeite e a verdade procuram a sumidade.
☼ Oliveira de balseira, terra de ladeira, moça de estalajadeira, não pode ser boa, antes que o queira.
☼ Oliveira não tem folha, o pavão comeu-a toda.
☼ Oliveira do meu avô, figueira de meu pai e vinha a quem eu puser.
☼ Olival que bem parece, devagar cresce.
☼ Estaca nova de oliveira velha, no tempo da flor, é cortar e pôr.
☼ Onde haja carvalheira, não plantes oliveira.
☼ Ao pé dor rio, nem vinha, nem olival, nem casa.
☼ Encosta soalheira, p´ranta-lhe oliveira.
☼ A olho vê seu mal, quem tem vinha no olival.
☼ Água de Janeiro traz azeite ao olival, vinho ao lagar e palha no palheiro.
☼ A chuva de São João tira o vinho e o azeite, e não dão pão.
☼ Quem muito azeite tem, muito deita nas berças.
☼ Dia de São Pedro, vê o teu olivedo e, se vires um bago, espera por um cento.
☼ Não é pancada da vara que amadurece a azeitona.
☼ Quem apanha a azeitona antes de Santo André fica-lhe o azeite no pé e, antes de Janeiro, fica-lhe o azeite no madeiro.
☼ Quem azeite colhe antes do Natal, azeite deixa no olival.
☼ O dinheiro deve ser como o azeite: por onde passar untar.
☼ Oliveira mareira é aneira.
☼ Não tem eira nem beira, nem ramo de oliveira.
☼ Esta falta de azeite, desgraça das torcidas.
☼ Quem pela oliveira passou e um raminho não cortou, do seu amor não se lembrou.
☼ Não bebas de lagoa, nem comas mais do que uma azeitona.
☼ Gato que nunca comeu o azeite, quando o come se lambuza.
☼ A salada bem salgada, pouco vinagre, bem azeitada.
☼ Molho fervido, azeite perdido.
☼ Deixa-te de grelos que é roubo de azeite.
☼ Cão azeiteiro nunca bom coelheiro.
☼ Pote de leite por pote de azeite ou bilha de leite por bilha de azeite.
☼ Deus dá a azeitona e o lagareiro o azeite.
☼ Se deus fosse lagareiro, também se untaria.
☼ Darei azeite que não te agrade, não é esmola que o pobre consome.
☼ A oliveira é benta e o ramo dela dá virtude.
☼ São quatro as mordomas da Igreja: oliveira, videira, abelheira e trigueira.
☼ Ao altar de Deus vão os melhores produtos da terra: cera de abelha, toalha de linho, pão, azeite e vinho.
☼ A oliveira dá-nos azeitona, a azeitona dá-nos azeite, o azeite dá-nos luz na candeia, saúde no mal e gosto no prato.
O azeite e a azeitona estão também presentes na arte e na literatura.
Em Mirandela, a oliveira tem sido aproveitada como árvore ornamental. É comum dizer-se que em Mirandela até as oliveiras dão rosas. Por toda a cidade existem oliveiras implantadas em jardins, em parques e em zonas verdes.
Só em Mirandela é possível adoptar uma oliveira para que fique no seu jardim e no seu quintal e possa tratar dela com carinho.
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