Há tempos eu estava querendo falar sobre Vinhos Biodinâmicos aqui no Enoleigos. Degustei um da Emiliana no ano passado e o vinho me chamou bastante a atenção.
O texto abaixo foi extraído do site da excelente enoteca Saint Vin Saint que, por sinal, eu recomendo fortemente que todos visitem e se deliciem com seus vinhos e gastronomia!
Vamos então ao artigo!
In Vino Veritas.
Gustavo Kauffman (GK)
O que são vinhos Biodinâmicos?
Quem já não ouviu a famosa frase: “Você é o que você come”? Pois bem. Digo mais, você também é o que você bebe.
Ninguém contesta que o vinho faz bem à saúde. Mas alguém já parou para pensar que, muito além de uvas fermentadas, alguns vinhos estão repletos de substâncias como conservantes, agrotóxicos, etc., como qualquer outro alimento cultivado pela agricultura moderna? Digo com toda a certeza que a maior parte da população não imagina o que acontece dentro de uma vinícola do ponto de vista industrial (pois sim, podemos chamar algumas vinícolas de indústrias, tal o tamanho, a produção em massa e a falta de preocupação com a saúde de seus consumidores). Então, refaço a pergunta: o vinho faz realmente bem à saúde? Que vinho faz bem à saúde?
Em vários países, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, vemos surgir ondas e modas de alimentos orgânicos, naturais e biológicos. Sem entrar a fundo nessas denominações nem nas questões que envolvem a regulamentação, podemos simplesmente pensar da seguinte maneira: um alimento que não leva (ou que leva em pouquíssima quantidade) adição de pesticidas, agrotóxicos ou qualquer tipo de substância do gênero, se estiver são (pois não queremos também consumir alimentos estragados, pois não foram conservados da maneira correta, queremos?), será, no mínimo, mais saudável para nosso organismo do que um outro que tenha sido cultivado com uma boa carga de veneno. É de conhecimento geral que substâncias como essas podem acarretar danos ao nosso organismo, em maior ou menor escala. Pense nisso.
Os vinhos biodinâmicos são todos os vinhos elaborados a partir das teorias biodinâmicas, e estão sendo cada vez mais produzidos no mundo todo. Grandes viticultores e enólogos adotaram essa prática ao longo dos anos. O biodinamismo tem origem nas teorias antroposóficas de Rudolf Steiner (1861-1925), fundador da antroposofia. Além de uma teoria ou prática, o biodinamismo é também um estilo de vida da maioria dos viticultores que o seguem.
As primeiras manifestações do biodinamismo surgiram na primeira metade do século XX, na Europa, onde até hoje há o maior número de adeptos, embora essa prática tenha seguidores fiéis por todo o mundo. Um dos grandes viticultores e defensores atuais das teorias biodinâmicas é Nicolas Joly, da França. Vale a pena conferir as suas obras publicadas sobre o tema.
Não podemos negar que os métodos empregados na biodinâmica podem ser peculiares, talvez mesmo até questionáveis, mas a essência dessa filosofia é muito consistente: o objetivo é fazer com que os solos onde haja qualquer tipo de plantio ganhem vida, ao contrário dos solos, que vemos na agricultura convencional, totalmente estéreis devido ao uso e ao abuso de agrotóxicos, aditivos e etc. Para isso é necessário, em primeiro lugar, um cultivo orgânico ou biológico, sem utilização de qualquer aditivo que não seja natural. Mas, mais do que tratamentos orgânicos, o biodinamismo leva em conta a polaridade dos seres vivos, o equilíbrio entre as forças materiais da terra e forças energéticas, como a influência do sol, da lua e outros astros na agricultura. Nada mais do que uma tentativa de preservação do equilíbrio natural do ecossistema.
O biodinamismo é muitas vezes encarado como uma seita, algo puramente místico e que envolve viticultores loucos com pirâmides de cristais e rituais na lua cheia. Puro exagero.
Um amigo viticultor brasileiro fez um dia uma comparação muito interessante sobre os vinhos elaborados pelos métodos convencionais e os vinhos elaborados a partir dos princípios do biodinamismo. Experimente comprar um pote de iogurte industrial no supermercado e comparar com um iogurte feito em casa. Qual deles é mais saboroso, mais característico e mais autêntico, embora seja mais difícil de fazer? Pois é. Com os vinhos biodinâmicos, pode ser a mesma coisa. Uma planta equilibrada e saudável vai gerar frutas igualmente saudáveis, que, por sua vez, darão origem a bons vinhos. E esse vinho, quando ingerido por nós, vai transmitir o que ele leva consigo: saúde, energia e equilíbrio. Sem misticismo ou bruxaria nenhuma. Questão de química…
Com a interferência mínima do homem ou de aditivos sintéticos, esses vinhos acabam por ter maximizadas as suas características ligadas ao terroir, como aromas, sabores e longevidade, sem máscaras ou artifícios que permitam esconder alguma característica ou defeito. Por isso é que muitos viticultores afirmam ser o biodinamismo a expressão máxima do terroir de uma região.
Em tempo: grande parte dos vinhos biodinâmicos são excelentes, pela sua qualidade, originalidade de características e equilíbrio, mas existem muitos vinhos convencionais maravilhosos e muitos vinhos biodinâmicos horríveis, como tudo nesta vida, pois o vinho depende muito da seriedade, do conhecimento e do comprometimento de cada produtor. O biodinamismo deve ser encarado de maneira séria pelos consumidores e também pelos produtores, que não podem se utilizar dessa prática apenas para uma questão de marketing ou moda. Ele deve ser, além de tudo, uma proposta de estilo de vida saudável e equilibrado, em harmonia com o ambiente em que vivemos.
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