segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Na Serra Gaúcha, vindima marcada por variações de clima em suas fases



Em relação às variedades de uva tardias, previsão do tempo oferece boas perspectivas.

Atualmente na fase de colheita de cultivares de ciclo intermediário, a vindima 2011 na principal região vitivinícola do país, a Serra Gaúcha, tem sido marcada por variações na condição do clima em seus diferentes momentos. E é entre o razoável e o excelente (também esperado para o desfecho da safra) em que se situam tais oscilações.

Antes da vindima em si, as fases de floração, desenvolvimento das bagas e formação do cacho de uva, do início de outubro ao final de dezembro, deram-se sob um contexto climático favorável. Um volume de chuvas bastante menor do que a média e uma primavera mais fria do que o normal foram “pouco propícios à ocorrência das principais doenças que afetam os vinhedos na região, como a antracnose e o míldio, além de facilitar a efetivação de boas práticas de manejo fitossanitário”, anota o pesquisador na área de agroclimatologia José Eduardo Monteiro, da Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves. Tanto a produtividade quanto a qualidade foram beneficiadas com tais condições, acrescenta.

A colheita dos primeiros cachos de variedades de ciclo precoce deu-se, igualmente, sob circunstâncias favoráveis. Cultivares de uva para a produção de espumante como a Chardonnay e a Pinot Noir ou de suco/vinho de mesa como BRS Violeta e Isabel Precoce estão entre as que foram colhidas em tal momento, apresentando índices ótimos de maturação e sanidade.

A partir do final de janeiro – por volta do dia 25 – a situação mudou, com a ocorrência de chuvas acima da média, o que se manteve na primeira quinzena de fevereiro. Com isto, foram prejudicadas as variedades de uva de ciclo intermediário (como Merlot, Cabernet Franc e Tannat), no momento em colheita, com a diminuição de 2 ou 3 graus brix (de açúcar, um indicativo de qualidade). É que as intermediárias tiveram justamente a fase final de maturação (a mais crítica do ciclo vegetativo da videira, quanto a podridões) afetada pelos índices de chuva acima da média mais recentemente.

Porém, as previsões climáticas de consenso do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), feitas em dezembro de 2010 e em janeiro de 2011, indicam maior probabilidade de chuvas abaixo da média, no Sul do país, em março. É a partir do início do próximo mês para quando está prevista a colheita das principais cultivares na região em volume de produção (caso da Isabel, entre as castas para a elaboração de vinho de mesa, e da Cabernet Sauvignon, para vinhos finos).

Sob estiagem

Na Metade Sul do Rio Grande do Sul, na região da Campanha, a vindima, em geral, tem apresentado frutos de boa qualidade, diz o engenheiro agrônomo Antonio Santin, consultor, no momento atendendo a seis produtores de uva e de vinho da região. Ele relata que as primeiras colheitas, no final de janeiro/início de fevereiro, das variedades de ciclo precoce e algumas de meia estação deram-se sob um contexto de estressamento hídrico da videira, por causa da forte estiagem no Sul do Estado. “Com isso, as uvas, que estavam muito boas, não puderam alcançar uma condição de amadurecimento ainda melhor”, anota Santin.

Com a volta da ocorrência de chuva na região, no início de fevereiro, uvas colhidas em meados deste mês, como as brancas Gewürztraminer e Chardonnay, apresentaram muito boa aptidão enológica, com boa graduação de açúcar e expressão aromática. Para castas mais tardias (Merlot, Tannat e Cabernet Sauvignon), as expectativas são boas, considerando a previsão de clima seco, afirma Santin. Ele menciona que no município de Itaqui (na Campanha Oriental), a colheita de Cabernet Sauvignon deve se dar dentro de 12 ou 15 dias; em Bagé (na Campanha Meridional), no final do mês de março/início de abril.

Em relação a Santa Catarina, o relato é de uma vindima com dificuldades, por conta do excesso de chuva, na tradicional região produtora do Alto Vale do Rio do Peixe. Lá, já foram colhidas (bastante prejudicadas pelo clima) as uvas Niágara Branca e Rosada, e em breve se inicia a safra de Isabel, para a qual a expectativa é de obtenção de maior qualidade, considerando a menor ocorrência de chuva na semana passada. Niágara e Isabel são as principais cultivares de uva para a produção de vinhos de mesa na região, assinala o chefe da Estação Experimental de Videira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), pesquisador Jean Pierre Rosier. De acordo com ele, o quadro nas zonas de altitude catarinenses (São Joaquim, Campos Novos e Caçador) é diferente: as uvas Chardonnay para a produção de espumante, já colhidas, apresentaram-se excelentes. Para o restante da safra (a começar dentro de 10 ou 15 dias), “as perspectivas são muito boas”, afirma.

Diversificação para diminuir possibilidade de prejuízo

Uma importante estratégia para diminuir as possibilidades de prejuízo diante de uma safra com condições de clima oscilantes está na escolha das cultivares a serem plantadas, ainda na fase de elaboração do projeto de instalação dos parreirais, observa o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho na área de fitotecnia Samar Velho da Silveira. Dessa forma, continua, o produtor deve optar por variedades que permitam um escalonamento da safra, plantando uvas de ciclo precoce, médio e tardio. “Viticultores que fizeram esse escalonamento, neste ano, por exemplo, puderam colher uvas Concord Clone 30 e Isabel Precoce cerca de duas semanas a um mês antes do que colheram ou ainda vão colher as Concord e Isabel tradicionais.

Assim, a maior qualidade de castas precoces compensará as prováveis perdas com cultivares mais tardias”, assinala o pesquisador. “Além disso, o produtor deve priorizar cultivares adaptadas às condições climáticas da região e que já foram testadas por instituições oficiais”, pontua.

Fonte: Embrapa Uva e Vinho (Giovani Capra)

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