domingo, 15 de agosto de 2010

Crônicas de um Enoleigo - Parte 7


Há caminhos tortuosos que levam à estrada certa... O cavalo não passa selado duas vezes... Quando há uma chance, agarre-a. A quantidade de ditados desagradáveis que rondavam a cabeça de Alberto era incomensurável. Nem percebeu que o som ambiente da banca de jornal tocava a letra emblemática da Legião: “Se lembra quando a gente, pensou um dia acreditar, que tudo era para sempre, sem saber... que o pra sempre sempre acaba...”.

- Como pôde mudar tão rápido? (Pensou enquanto procurava alguma revista)

Estavam abraçados, na entrada da Vinheria. Ele iria anunciar a reserva, quando o celular dela tocou e rapidamente Suzana respondeu:

- Olá chefe! Não me larga nem no domingo?!?

Ele pediu silêncio com um gesto usual e foi para perto da calçada, mais ouvindo do que falando até que gritou:

- Eu não acredito!!!!!!! É sério?

Um sorriso iluminado tornou aquele rosto ainda mais belo. Então, finalizou o telefonema:

- Claro. Sim. Agora? Sem problema... Certo, certo. Combinado.

Foi em direção de Alberto com passos rápidos e lhe causou um susto quando disse:

- Precisamos voltar. Agora!
- Como?!? Passou a fome?
- Alberto, sem brincadeiras. Acabo de ser comunicada de uma promoção. Sigo para Milão amanhã e devo ficar por lá pelo menos uns seis meses. Não é o máximo?
- Sim, Parabéns!!

Ele tentou abraçá-la, mas a fria colega de almoço reapareceu e deu um passo atrás.

- Alberto. Vamos, agora!
- Mas...
- Sem “mas”! Ou você acha que uma transa vale mais que a Itália?

As palavras mais pareciam um soco na boca do estômago. E ele nem entendeu bem como a levou para casa, enquanto ela, ao telefone, contava a novidade radiante para uns amigos e familiares. Quando finalmente saiu do carro, ainda com o telefone no ouvido, mandou um beijo silencioso. Alberto quase pediu que ela descesse com o vinho que ficara no apartamento. Bobagem. Nem gostou dele tanto assim. Aliás, nunca mais compraria aquela garrafa. Pobres vinícolas que, mal sabem, não conseguem vender esse ou aquele rótulo para aquela ou essa pessoa apenas porque, no dia em que abriram a garrafa, algo ruim aconteceu.

O sábado que se anunciava com tantas possibilidades, terminou em uma banca de jornal. Alberto precisava comprar algo para ler, urgentemente. E entre revistas de corrida de carros achou algumas publicações sobre vinho. Melhor! Viu que a Folha de São Paulo publicava encartes sobre vinhos, separados por países. Foi até o caixa, onde uma ruivinha de média estatura aguardava seu troco. Perguntou:

- Você possui fascículos mais antigos?
- Sim.

A ruiva olhou com o canto dos olhos, transparecendo verde água. Pensou por qual motivo as pessoas liam sobre vinhos. Aliás, não sabia por qual motivo as pessoas liam sobre qualquer bebida. Na opinião de Daniela, bebida se bebe, não se lê. Usara essa frase na noite anterior... Sorriu por dentro pelo contexto.

- Que maravilha. Quero todos!

Já fora da banca examinava o belo rapaz comprado todos os fascículos. Ela queria apenas algo para passar o tempo até a semana de férias que gozaria na Argentina. E como gozaria! Conteve mais alguns risos, conseguindo ouvir a pergunta final:

- Tem um Pão de Açúcar aqui perto?

Figura, pensou. Seguiu em direção da Bela Vista. Tinha uma mala para arrumar.

(...continua...)

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