domingo, 20 de fevereiro de 2011

Série Uvas – A Tinta Grenache

Já falamos aqui da Malbec que, apesar de ter origem na França, conquistou o mundo quando chegou ao Terroir Argentino.

Falamos também da Pinotage espécie amplamente encontrada na África do Sul que também traz em seu perfil o país que a mostrou para o mundo.

Outro caso muito semelhante é da Portuguesa Touriga Nacional.

Agora chegou a vez de falarmos de uma uva de origem espanhola, a segunda casta vinífera mais cultivada no mundo!

O mundo do vinho é realmente fascinante. Aproveite.

In Vino Veritas!

Gustavo Kauffman

Série Uvas – A Tinta Grenache



A Grenache (ou Grenache Noir) é a segunda casta vinífera mais cultivada no mundo. Ela não é famosa nem conhecida com a Merlot ou Cabernet Sauvignon e a maioria das pessoas nem imagina que já experimentou essa uva. Mas então, a grande pergunta que fica no ar é: Se pouca gente conhece essa uva, como pode ser tão cultivada? A resposta é fácil: Essa casta normalmente se apresenta em corte e não varietal. Alguns dos vinhos que nós conhecemos tão bem levam um percentual de Grenache. Apenas para exemplificar: Rioja, Châteauneuf-du-Pape e "GSM".

Sua origem está intimamente ligada ao Mediterrâneo. Sua terra natal é a Espanha, mais precisamente a região litorânea da Cataluña. Por conta disso, a Grenache também é conhecida pelo seu nome espanhol, Garnacha (ou Garnacha Tinta). Ainda recebe o nome de Cannonau na Córsega e na Sardenha.

Fácil de cultivar, pode ser encontrada em muitas regiões (mais quentes). É uma uva versátil, produz desde vinhos rosés, passando pelos tintos, chegando aos vinhos de sobremesa. Pode estagiar em madeira (velha, de preferência) ou não. Origina vinhos alcoólicos, aromáticos com poucos taninos e baixa acidez.

História

Grenache ou Garnacha (como é conhecido em Espanha) provavelmente se originou na região de Aragão, no norte da Espanha, de acordo com provas recentes. As plantações provavelmente estenderam-se do local de nascimento original para a Catalunha e outras terras sob a Coroa de Aragão , como Sardenha e Rousillon no sul da França. Um dos primeiros sinônimo para a videira foi Tinto Aragonés (vermelho de Aragão). A uva é conhecida como Cannonau na Sardenha, onde se afirma que ela se originou lá e se espalhou para outras terras do Mediterrâneo sob o governo de Aragão. A Grenache, sob seu sinônimo espanhol Garnacha, já estava bem estabelecida em ambos os lados do Pirenéus , quando a região de Roussillon foi anexada pela França . De lá a vinha fez o seu caminho através do Languedoc e do Sul Rhone, região onde foi muito bem estabelecida por volta do século 19. Apesar de sua predominância nas proximidades de Navarra e da Catalunha, a Garnacha não foi amplamente plantada na Rioja até o início do século 20 quando vinhas foram replantadas após a filoxera.

A Grenache foi uma das primeiras variedades a ser introduzida na Austrália no século 18 e acabou se tornando no país a variedade de uva tinta mais plantada até que foi ultrapassada por Shiraz, em meados dos anos 1960. No final do século 20, o movimento Rhone Rangers chamou a atenção para a produção de um varietal premium da Grenache e de Blends ao estilo do Rhone, com total domínio da Grenache, aonde se destaca o famoso Châteauneuf-du-Pape . No início do século 20, a Grenache foi uma dos primeiras uvas Vitis vinifera a ser vinificada com êxito durante o desenvolvimento inicial do vinho de Washington.

Vinificação

A Grenache é freqüentemente usada como um componente da mistura, acrescentando corpo e frutado doce para um vinho. A uva pode ser problemática para o produtor, devido à tendência em oxidar facilmente e perder sua cor. Para compensar naturalmente baixos taninos da uva e também baixos compostos fenólicos, alguns produtores vão usar uma prensa excessivamente dura uma fermentação quente para extrair a quantidade máxima de cor e fenóis das peles. Isso pode sair pela culatra já que pode ocorrer a produção de verde, aromas herbáceos e adstringente, deixando o vinho grosseiro e sem suas características vibrantes e frutadas! Para manter os traços característicos, a Grenache responde melhor a um período lento e longo durante sua fermentação em baixas temperaturas, seguido por uma maceração. Para prevenir a oxidação, o vinho deve ser montado o mínimo possível. A utilização de novos barris de carvalho podem ajudar a manter a cor e evitar a oxidação, mas muita influência também pode encobrir o sabor frutado de Grenache.

Os altos níveis de açúcares e ausência de taninos ásperos, torna a Grenache bem adaptadas à produção de vinhos fortificados, como o vin doux naturels (VDN) do Roussillon região e os "porta -estilo"dos vinhos da Austrália.

Características

A palavra chave para se ter um bom vinho (varietal ou cortado) feito a partir da Grenache é Baixo Rendimento como vimos no tópico anterior. Essa casta é muito vigorosa e, portanto, necessita ser domada no vinhedo com várias podas. Segundo alguns especialistas, o rendimento ideal da Grenache é de aproximadamente 35hl/ha. Porém, é comum encontrar apenas 06hl/ha nas vinhas velhas do Priorato e 15hl/ha em Châteauneuf-du-Pape. O descaso com o vinhedo compromete totalmente o resultado final, não sendo possível corrigir na cantina (adega). Outro cuidado que se deve tomar é com relação à possibilidade de ocorrência de oxidação prematura durante a fermentação.

A Grenache é possivelmente a casta mais "sociável" que existe, participando de vários cortes. Fácil de cultivar, a videira se adapta muito bem aos climas mais quentes com pouca água.

Os melhores solos são: calcário, arenoso e granítico (galets roulés e llicorella). Melhor ainda se forem secos com excelente drenagem e podres em nutrientes.

Possui brotamento precoce e longo período de crescimento até o completo amadurecimento. Sendo uma das últimas castas a ser colhida. Isso explica, em parte, a alta concentração de açúcar no bago, o que resulta em elevada graduação alcoólica, podendo passar dos 15º. Os bagos são pequenos, de pele fina e com pouco pigmento; originando vinhos com poucos taninos e cor.

Aromas

Devido a sua versatilidade em produzir vinhos de diferentes estilos, podemos dizer que são muitos os aromas e sabores da Grenache. Em linhas gerais, os aromas primários mais encontrados são: frutas vermelhas (morango, framboesa, ameixa), frutas pretas (groselha preta, amora), especiarias (pimenta do reino, gengibre, azeitonas pretas), amanteigados (mel), amadeirados (café, couro, tostado, castanha assada). Dependendo da região, ainda podemos encontrar aromas de amarone italiano ou tawny.

Na boca, a Grenache também pode se apresentar das mais variadas formas: rosé, tinto seco ou doce. Seus vinhos tendem a serem alcoólicos, vivos, intensos, potentes e gordos. Algumas vezes a acidez e o tanino podem decepcionar. O corpo pode variar entre baixo para médio (rosés), passando pelo corpo médio clássico (tintos de Rioja e Châteauneuf-du-Pape) até encorpados (Priorato e "GSM"). Além disso, no caso dos vinhos de sobremesa, a textura é envolvente, potente e complexa.

Assim como a maioria das castas, a Grenache pode ser apresentada sozinha (varietal) ou em corte (assemblages). Os vinhos em corte são mais frequentes. As associações mais comuns são com a Tempranillo (Rioja), Merlot, Cabernet Sauvignon, Syrah e Cariñena (Priorato) e Mourvèdre (Rhône e Austrália).

O fato de ser tão eclética nos permite degustá-la jovem ou não; tudo depende da região e do estilo do vinho. Somente os melhores vinhos merecem ser guardados. Nessa linha temos: até 05 anos (vinhos rosés e tintos mais simples), de 03 a 07 anos (Riojas crianza, Gigondas e Côtes Du Rhône), de 05 a 10 anos (Banyuls e Maury), de 05 a 15 anos (Priorato e Châteauneuf-du-Pape).

Principais Regiões

Espanha, Priorato – Tudo indica que aqui é a sua terra natal. As videiras são antigas. Existem dois estilos de vinhos aqui, o antigo que irá se apresentar ultra potente, concentrado, alcoólico e extremamente escuro que precisará de muitos anos para evoluir (cortada com Cariñena). O estilo moderno apresenta vinhos mais prontos, ainda potentes, com intenso aroma frutado (cortada com Syrah, Merlot ou Cabernet Sauvignon);

Espanha, Rioja – Já teve mais prestígio, hoje, seu cultivo está em declínio na região. Mesmo assim, ainda existem aproximadamente 9.000ha em atividade, principalmente em Rioja Baja, onde compõe cerca de 20% da mistura. Seus vinhos não são recomendados para guarda;

Espanha, Navarra – Aqui a palavra chave é Rosado. Navarra produz alguns dos melhores vinhos rosés da Espanha e a Garnacha tem papel fundamental nisso, fornecendo álcool, estrutura e aromas frutados;

França, Vale do Rhône (Região Sul) – A Grenache é uma das grandes estrelas da região. Muitos dizem que ela é a "carregadora de piano" dos vinhos cortados. Ela responde por, nada menos, que 40% dos vinhos denominados "Côtes du Rhône" e "Côtes du Rhône-Villages". O grande problema aqui é que a qualidade varia tanto quanto o número de rótulos a venda. É necessário conhecer bem a região e os produtores. Ainda valem a pena os vinhos da denominação Vacqueyras;

França, Châteauneuf-du-Pape – Nesta famosa denominação, a Grenache representa a espinha dorsal do vinho, originando exemplares suculentos, picantes, aromáticos e prontos para beber em 3 anos ou, se preferir, evoluir por mais 10. É preciso tomar muito cuidado com esta denominação, pois existe muito vinho sem graça, com excesso de álcool e pouca inspiração;

França, Gigondas – Outra denominação do sul do Vale do Rhône que é dominada pela Grenache (80%). Seus melhores vinhos podem ser elegantes com um toque de evolução, inclusive na cor. É comum na região, estagiar a Grenache em barricas grandes e velhas;

França, Tavel e Lirac – Aqui a vez é do vinho rosé. Origina vinhos surpreendentes, alcoólicos, estruturados e muitas vezes, espetaculares;

França, Roussillon – Mais precisamente nas sub-regiões de Banyuls e Maury. A especialidade são os vinhos de sobremesa, fantásticos. Para muitos, os únicos vinhos que harmonizam com chocolate;

Austrália – Começou a ser cultivada na região de South Austrália (Adelaide) no final do século 18 e, ainda hoje, muitos parreirais em produção têm mais de 80 anos. Uma sigla representa o que há de melhor por lá: "GSM", ou seja, um delicioso vinho tinto feito da mistura de Grenache, Syrah e Mourvèdre. As melhores sub-regiões são Barossa Valley e McLaren Vale.


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