Hoje estou iniciando aqui no Enoleigos uma nova série! Vou procurar trazer um pouco da intimidade de diversos enólogos e personalidades do mundo do vinho.
A Série começa com a Bruna Cristofoli, Enóloga responsável pelos Vinhos Cristofoli (http://www.vinhoscristofoli.com.br/). Visitei a Bruna durante minhas férias de Julho e em breve trarei também todos os detalhes de sua vinícola!
Eu adorei ler as repostas da Bruna, espero que todos também gostem!
In Vino Veritas!
Gustavo Kauffman
10 Perguntas para Bruna Cristofoli
1) Como é a vida nas Serras Gaúchas? Você nunca pensou em morar em um grande centro?
A vida aqui é muito boa! Vivo em meio a uma paisagem muito bonita, gosto da história, de aspectos da cultura, estamos perto das coisas e do caminho para chegar a outros lugares – mesmo que perto seja muito relativo (isso quer dizer também perto do aeroporto). E eu ainda não vivo no centro de Bento Gonçalves – vivo no interior (15 minutos da ‘cidade’). Nunca pensei em morar num grande centro – a menos que a vida assim exija, já pensei sim em morar em algum lugar mais ‘escondido’ do que aqui onde vivo hoje, com o objetivo de adotar outro estilo de vida.
2) Qual tipo de música gosta de ouvir? Poderia nominar duas ou três?
Ouço um pouco de tudo... ultimamente tenho ouvido MPB, Bossa, jazz...músicas mais tranqüilas que me deixem relaxar.
Estou ouvindo até enjoar um álbum da Diana Krall com versões de canções brasileiras:
Harmoniza com pôr-do-sol bebendo vinho no Edredom.
Também Jorge Drexler – Fusion http://www.youtube.com/watch?v=nN5mx6-U7HE
Porque casa muito bem com o amooor!
Jorge Drexler – Don de Fluir http://www.youtube.com/watch?v=V6NTxpX8VzI
Harmoniza com... ‘bebendo vinho no bar’, despretensiosamente, de repente, você vê alguém interessante...
3) Você tem o hábito de comemorar eventos importantes com vinho? Caso positivo, enumere para nós alguns vinhos que marcaram momentos inesquecíveis em sua vida!
Sempre tem que ter vinho... mas das minhas memórias enológicas, o que mais me marcou não foram os vinhos mais caros e refinados que bebi, foram os momentos e as pessoas, aí posso citar algumas:
A mais antiga memória: quando era criança, lá pelo jardim da infância, queria beber vinho à mesa também, na impossibilidade, minha mãe fazia como os gregos, mas à moda dela, servia-me um terço de copo de vinho, dois terços de água – sem colocar açúcar. Lembro-me do copo, do gosto e da cor perfeitamente.
O primeiro ‘porre’ – hoje não faço mais isso, que fique claro! Num acampamento, com duas queridas amigas, ao som de reggae, não lembro mais do gosto, mas o episódio marcou, e foi com vinho. Foi no primeiro ano do curso técnico em enologia.
Dois vinhos que bebi, um Cabernet Franc e um Trebiano, das primeiras vindimas da Dal Pizzol Vinhos Finos, vinhos mais velho que eu! dos anos 70. Que pertencem à adega particular da família Dal Pizzol. Foram bebidas em companhia, com os diretores da Dal Pizzol e amigos. Marcou-me a qualidade que tinham, especialmente no Trebiano, por ser branco e ter vivido muito bem os seus anos.
E tenho alguns guardados de viagens, para meu aniversário deste ano, que marcará uma mudança de ciclo. Um Riesling Eiswein para a sobremesa, um amarone Allegrini... entre outros.
4) Você gosta de cinema? Qual o último filme que assistiu?
Não tenho o hábito de ir ao cinema, embora seja interessante o ambiente, o som... como não tenho ansiedade em ver os filmes, acabo gostando bastante de assistir em baixo das cobertas em casa. :)
5) Como a Enologia surgiu em sua vida? Conte um pouquinho de sua história de amor com o vinho para nós.
Surgiu por que sempre vivi neste meio do vinho, minha família sempre trabalhou as videiras, então foi natural, iniciei o curso técnico em enologia, depois fiz o curso superior de tecnologia em viticultura e enologia, fiz uma especialização em viticultura... e assim vai indo. Os vinhos são especiais, porque é muito cativante ver a expressão da videira nos diferentes locais, ver o mosto da uva e vê-lo se transformar em vinho pelas leveduras, e assim evoluir, amadurecer... e um dia morrer – como uma pessoa.
6) Quais as grandes dificuldades para ser Enólogo no Brasil?
Eu não poderia generalizar este comentário. Então pretendo destacar as dificuldades que hoje eu sinto perante a realidade do meu trabalho – trabalhar em uma pequena adega familiar no Rio Grande do Sul.
Dividimos bastante trabalho entre poucas pessoas (porque somos em poucos). Sendo assim atualmente o excesso de burocracia na produção e comercialização dos vinhos – relatórios, declarações, guerra fiscal interestadual, selo fiscal, logística, entre outros, me impedem de criar e dedicar-me à enologia livremente. Tenho andado com a cabeça cheia de equações complexas, entre plantio de novo vinhedos, seleção de variedades, folders, site, notícias, busca de representantes comerciais, parcerias no enoturísmo. Como sou eu que cuido da parte de enologia, enoturismo e comercial...ufa! às vezes canso um pouco, mas estas constantes que mudam a minha rotina todos os dias são a grande ‘graça’ do meu trabalho. Vindimas são sempre diferentes, vinhos são sempre diferente, isso compensa.
Minha atual grande dificuldade é botar este projeto para caminhar mais tranquilo.
Depois como desafio geral, sinto que ainda existe pouca valorização do papel do enólogo, por parte de muitos produtores, que não investem na pesquisa, na busca por novas tecnologias, treinamentos... e até do consumidor, que acaba não sabendo que alguém cuidou e esperou por aquele líquido que ele está bebendo. O valor desse líquido não está somente em quem vende ele ou escreve sobre ele, está também em que faz ele. Esta mudança cabe somente aos enólogos, precisamos despertar.
7) Existem muitos críticos que defendem que o Brasil precisa produzir vinhos mais alegres, com mais fruta e menos madeira. O que você acha disto?
Acredito que o Brasil deve produzir vinhos de acordo com a aptidão enológica natural de cada região. A madeira pode ser necessária em alguns vinhos, para a polimerização dos taninos e conseqüente amadurecimento, mas deve ser dosada na madeira certa – o tipo certo de madeira para o tipo certo de vinho, esta postura pode fazer toda a diferença.
A ‘alegria nos vinhos’ poderia nos trazer novos consumidores, poderia também proporcionar vinhos mais sutis, delicados e complexos ao invés de apenas buscarmos – como enólogos e consumidores, vinhos ‘pancadão’ como sinônimo de qualidade. Isso é para mim um desafio como enóloga e acredito que é um desafio para muitos críticos também.
8) Quais os seus planos pro futuro? Poderia nos confidenciar alguma novidade na Cristofoli?
Meus planos para o futuro breve são poder testar novas cultivares nos nossos terrenos e assim ter outros varietais, depois quero fazer cortes, testar diferentes parcelas, e vender com marcas diferentes, por serem desejos diferentes.
Mais para frente pretendo poder ter uma propriedade para viver com a minha família, começar uma mudança de ritmo, e ali iniciar os experimentos para produzir um vinho biodinâmico. Na biodinâmica a propriedade é um sistema fechado, e somente é biodinâmico o vinho que é vivido assim, ou seja, fruto da vida das pessoas, animais e vegetais, fungos, etc... que estão na propriedade – o desafio é muito grande, porque vivemos num sistema que privilegia a produção em escala e as grandes propriedades. Na minha visão, ou o vinho é feito assim ou é estratégia de marketing para atingir este segmento de mercado e ficar bem perante o consumidor.
De qualquer maneira, a terra onde piso hoje tem o mesmo valor, então é aqui que devo depositar agora meu sangue e meu coração para atingir meus objetivos atuais e futuros.
Debaixo do céu, tudo tem o seu tempo...
9) Como surgiu a idéia do “Edredon nos Parreirais”?
A idéia do Edredom nos Parreirais surgiu de uma consultoria que prestou serviços ao projeto Economia da Experiência, que iniciou aqui na Região Uva e Vinho com coordenação do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares. O fruto disso é o Tour da Experiência, que traz experiências inusitadas e inovadoras aos turistas. O Edredom nos parreirais é uma delas, propiciando ao visitante uma maneira sem igual de beber um bom vinho e relaxar em meio às videiras e à paisagem da Serra Gaúcha.
10) Quais os vinhos Brasileiros, além dos seus, que você costuma beber?
Para toda hora gosto muito do Pinot Grigio da Miolo (sou completamente suspeita, por, entre outras coisas, adorar brancos). O meu Moscato de Alexandria, harmonizado comigo mesma (ou seja sem mais nada) vai bem também...
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