domingo, 4 de julho de 2010

Crônicas de um Enoleigo - Parte 1

Pois é. Para quem desconfiou do término da bilateralidade do blog, cá estou de volta. Sim, reconheço, estou perdendo de 50 (ou mais!) a 2 para o Tatau (GK), sem dúvida o grande responsável pelo sucesso do Enoleigos. Meu operoso e meticuloso irmão está demonstrando uma capacidade ímpar de cultura e organização, isso sem falar nas fotos fantásticas que posta. Eu acabei me seduzindo demais pela endorfina, não consigo acompanhar o ritmo das degustações. Donde pensei em como poderia contribuir para o blog, mesmo me limitando a uma garrafa de vinho por semana, se muito. E tinha de ser algo que se amoldasse ao objetivo desse blog. Disso tudo nasceu a primeira crônica abaixo.

Tomara que gostem!!!!

Um abraço.

In vino veritas!

(AK)

Crônicas de um Enoleigo - Parte 1

- Chile, Argentina, França, Espanha, Portugal, Brasil, Austrália... Nossa, até África do Sul?!? Maldita hora em que eu resolvi tirar onda com ela...

O pensamento de Alberto já voava longe depois dos primeiros quinze minutos vagando pelas prateleiras do setor de vinhos da loja do Pão de Açúcar. Era para ser mais um sábado comum. Os colegas da empresa que o contratara no começo do ano finalmente o haviam convidado para algo além de um happy hour. Tudo por uma frase tola no meio do almoço de quarta.

- Os chilenos são fantásticos.

Foi quase um reflexo. Fazia tempo que a loira do terceiro andar o fascinara. Era daquelas mulheres quietas, charmosas, que falam apenas por sorrisos e olhares. Quando finalmente esboçou um comentário sobre vinhos – era o assunto daquele almoço de um outono frio – Alberto nem titubeou. E a resposta dela veio como uma armadilha:

- Você também gosta? Adoro os da Concha y Toro, em especial o Sunrise Merlot. Uma delícia!

Alberto engoliu seco. Concha? Toro? Desde quando vinho se relaciona com moluscos ou touradas?!? Entretanto era a frase mais longa que Suzana proferira nas três ou quatro vezes em que almoçaram juntos em meses. A resposta havia de ser natural. E foi...

- Hum... Muito bom.

A lembrança do sorriso rápido, exibindo dentes perfeitos, distraiu sua atenção pela terceira vez no mercado. Um misto de ansiedade e preocupação o assolava. Até que o atendente do mercado o trouxe para terra:

- Posso ajudar senhor?

Era um rapaz de cabelo cheio de gel, simpático, e com a qualificação sommelier estampada na camisa. O alívio de Alberto se traduziu em palavras:

- Sim, muito.

Explicada a situação, logo o santo homem mostrou duas garrafas do tal Sunrise Merlot. Logo se impressionou com a chamada de trezentos dias de sol que o rótulo trazia. Mesmo assim Alberto indagou:

- 2008... Não é muito novo? Dizem que vinho bom é vinho antigo...

O atencioso profissional explicou brevemente a noção de vinhos jovens, concatenando a lição com as dificuldades da guarda e a rotina mundial de se beber garrafas quase sempre no mesmo dia da aquisição. Alberto cogitou puxar o Iphone para fazer uma anotação e utilizá-la logo mais para puxar papo com Suzana... Mas logo veio uma pergunta do atendente:

- Serão apenas mulheres?

- Não. Devem ser umas cinco pessoas, três homens e duas mulheres. Por quê?

- Bem... Poucos homens gostam de Merlot.

- Do que?

- A uva...

- Uva tem nome?

- Sim, sim... Era nítido o sorriso sarcástico escapando no rosto do atendente.

- Pensei ser o nome do vinho...

- Não. O nome do vinho é Sunrise, a bodega, ou melhor, o fabricante, chama Concha y Toro, já a uva é a Merlot.

A cada explicação o atendente apontava na garrafa. Alberto achou o máximo a lição, mas se preocupou com o horário. Estava atrasado!

- Bacana. Então o que indica?

- Já que estamos falando de Chile, e de grandes fabricantes, leve mais essas duas garrafas de Casillero del Diablo, Cabernet Sauvigon 2007, foi uma safra muito boa.

Alberto pegou as garrafas correndo, agradeceu e foi direito para o caixa. E quanto viu os R$ 147,50 aparecerem na tela do computador deixou escapar um “nossa senhora” e refletiu: - Compraria cerveja para uns dois churrascos de cinco pessoas!

E lá se foi ele... Com duas garrafas em cada sacola plástica branca, pousadas no banco do carona de seu Civic. No primeiro sinal acendeu a luz e olhou a garrafa do tal vinho “caseiro”... Xingou o atendente quando viu o rosto do demônio na garrafa! Definitivamente, Suzana não iria gostar...

(...continua...)

4 comentários:

  1. GK e AK,

    Parabéns pelo Blog... acompanho com frequência... GK, as receitas são maravilhosas, tenho aproveitado todas... sempre que compro vinho passo por aqui, CLARO! Estou fazendo o maior sucesso aqui em casa!!! Agora, estou na contagem para continuar lendo as crônicas de AK. Mais uma vez, parabéns pelo Blog!!! Abraços

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  2. Oi Karina!

    Bom demais receber este feedback seu, sabia? Ficamos muito, mas muito felizes mesmo!!!

    Esperamos que goste da segunda parte da crônica do AK.

    Tudo que fazemos aqui no Enoleigos é repleto de carinho e seu retorno nos enche de energia para continuar caprichando cada vez mais!

    Um grande abraço,

    AK e GK

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  3. Nota #1: Retornar sempre a este blog! Parabéns! Vinhos, receitas e crônicas, tudo está muito legal.

    Nota #2: Ficar longe do Pão de Açúcar!!! Dois Casillero e dois Sunrise por R$ 147,50. Roubo...

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  4. Vinicius,

    Obrigado demais por sua visita e pelo seu comentário!!!

    O preço que meu irmão colocou na crônica foi totalmente fictício! rsrsrs....

    Forte Abraço e volte sempre!!!

    Gustavo

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Seu comentário é muito bem vindo!!!

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