A região vinheteira do Douro insinua-se numa exuberância de montes, vales e cursos de água. Os seus típicos socalcos testemunham a tenacidade de quem, desde tempos imemoráveis, se dedicou ao cultivo da vinha. Pois que, se o rio Douro recortou a paisagem, ao homem caberia reconverter as encostas xistosas e íngremes das suas margens. Descobertas arqueológicas e refrências documentais provam que já na pré-história, e sobretudo durante a ocupação romana da Península Ibérica, a partir do século III a. C., se praticava a viticultura na região. Mas só bastante tempo mais tarde, no século XVIII, a vitivinicultura do Douro entrou numa fase de expansão, que se traduziu num crescimento acelerado do comércio de vinhos, designadamente para o mercado externo.
E é neste contexto socioeconómico que surge a designação vinho do Porto, um produto à época bastante apreciado pelos ingleses. Mas a procura do mercado inglês conduziu ao crescimento desordenado dos vinhedos e até adulteração do vinho do Porto, nomeadamente através da adição de açúcar. Perante o caos e a quebra das exportações, também consequência de uma série de maus anos agrícolas, o Estado portugês interveio. E, entre outras medidas determinadas pelo ministro Marquês de Pombal, foi definida, no Douro, a primeira região demarcada do mundo, cujos marcos limítrofes seriam colocados em 1756. Com um sabor único, o vinho do Porto resulta da improvável associação entre solos pedregosos, clima severo e castas raras.
Talvez por isso apresente tão variados cambiantes aromáticos, gustativos e cromáticos, de tal forma que existem diferentes tipos de Porto. Um mundo de sensações cabe, pois, neste vinho de filigrana, que pode, por isso, ser servido em todas as ocasiões e com quase todos os acompanhamentos. Conquistando o mundo com a qualidade dos seus vinhos do Porto, o Douro começou lentamente a explorar outras vertentes do seu enorme potencial vitícola. Surgiram assim os primeiros vinhos de mesa da região, alguns dos quais são hoje ícones da vinicultura portuguesa.
Mas foi apenas no início dos anos 90 que uma nova geração de produtores apostou convictamente em vinhos de mesa de grande qualidade, a partir dos mesmos vinhedos que dão origem ao Porto. Castas como Touriga Nacional, a Tinta Roriz, a Tinta Barroca ou a Touriga Franca tornaram-se, então matéria-prima de excelência para vinhos fundados nas tradições da região e nas peculiares condições agroclimáticas do seu terroir.
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