A Don Laurindo foi a primeira vinícola que visitamos no nosso segundo dia nas Serras Gaúchas. Fomos recebidos pelo simpático Ademir Bradelli, o principal responsável pela vinícola. O nome “Laurindo” vem do pai do Ademir que também tivemos o prazer de conhecer pessoalmente!
Tudo começou em 1887 quando, procedente de Zévio, pequeno povoado na povíncia de Verona, norte da Itália, chega a Bento Gonçalves Marcelino Brandelli. Como todos os imigrantes, no início, sobreviveu dedicando-se à agricultura rudimentar da época e simultaneamente, iniciou o plantio de videiras, cujo vinho se destinava ao consumo da família. Em 1946, Cezar, filho de Marcelino, com sua família, adquiriram trinta hectares de terra na localidade Oito da Graciema, onde se consolidaram na podução de uvas e vinhos, muito apreciados pelos vizinhos e amigos. Esta tradição e a arte foram transmitidas de pai para filho. Laurindo, filho de Cezar, esmerou seus conhecimentos, passando a produzir e a elaborar vinhos finos de castas nobres, com a ajuda dos filhos Ademir, Adelar, Alfonso e Márcio. Em 1991, Laurindo reuniu os filhos e com eles, resolveu institucionalizar a venda de seus vinhos, criando a VINHOS DON LAURINDO LTDA, empresa constituída unicamente com membros da família. Unindo-se tradição, arte e técnica, através da produção própria e seleção das uvas, obtém-se excelentes resultados na elaboração dos vinhos. Os vinhos são elaborados para o consumo da família e o excedente, comercializado. Dentro desta filosofia, conseguimos degustar e apreciar vinhos com garantia de qualidade e de sabores exclusivos.
A Don Laurindo possui hoje 15 hectares de uvas plantadas, 100% destes em espaldeira. A produção atual é de 120.000 garrafas por ano. A primeira safra vinificada por eles foi a de 1991, e em 1995 foram os pioneiros no Brasil a vinificar um vinho de Tannat.
Os vinhedos em espaldeira |
Muitas mudanças qualitativas bem acontecendo e a maior delas nos vinhedos. Antigamente o que valia mais era a o peso, ou seja, a quantidade e não a qualidade das uvas. Hoje utilizam tecnologia de ponta nos vinhedos, com foco total em qualidade, no crescimento calcado na qualidade dos produtos. A preocupação com a qualidade está também no processo produtivo. Um exemplo disto é o tempo entre a colheita e a pisa que é de no máximo 1 hora evitando, desta forma, possíveis oxidações em uvas que tenham se ferido durante a colheita.
Outra curiosidade é a venda dos produtos que ocorre em sua maior parte via Internet (60%) e diretamente na vinícola (20%). São vendas “boca a boca”, não existindo investimento em publicidade. A maior preocupação da Don Laurindo está na produção e não na comercialização.
A vinícola é um ponto de parada imperdível para quem irá visitar o Vale dos Vinhedos. As caves são muito bonitas, assim como a sala aonde Ademir guarda seus tesouros, praticamente todas as safras já vinificadas pela Don Laurindo estão ali.
Algumas das relíquias |
Após conhecer a vinícola e sua bela história, chegamos a melhor parte da visita, a degustação!
Começamos com um espumante produzido pelo método tradicional feito com Malvásia de Cândia que surpreendeu pelos seus toques herbáceos. Trouxe também bastante fruta e uma perlage fina e persistente. Bastante diferente e interessante.
O Merlot DO também me chamou bastante a atenção. Os detalhes virão em breve em post específico, mas o Vale dos Vinhedos hoje possui uma DO (Denominação de Origem) e, neste primeiro ano, a Don Laurindo produziu um Merlot específico para ser certificado pela DO. Muita fruta e tipicidade. Um vinho memorável!
Merlot DO Reserva 2009 |
Não poderia deixar de falar do Tannat da pioneira desta cepa no Vale. Provamos o Tannat 10 Anos Safra 2005, lançado para homenagear os 10 anos da variedade Tannat no Brasil. Um vinho bastante complexo e com potencial de guarda.
Para terminar falo do meu favorito. O Gran Reserva Safra 2002, produzido com 80% de Tanna e 20% de Ancelota, um vinhaço que, por sinal, é o favorito do Ademir. Muita fruta vermelha, especiarias, excelente corpo e estrutura.
Gran Reserva 2002, delicioso! |
A turma estava animada com a qualidade que estávamos encontrando quando então o Ademir disse a todos que poderíamos escolher uma garrafa da sala aonde guarda a história da Don Laurindo. Ah, a sala é protegida por uma grade fechada a cadeado!!! Rs. O vinho escolhido foi um Merlot de 1996, isso mesmo, 1996, 15 anos! Iria ser minha primeira experiência com um vinho brasileiro tão antigo. Adivinhem o que aconteceu? O vinho estava PERFEITO. Claro que era um vinho evoluído, com muitos aromas terciários, coloração já atijolada típica de vinhos mais antigos, mas o vinho ainda possuía taninos, acidez e até um pouco de fruta. Não se esqueçam que a primeira safra vinificada por eles foi em 1991, ou seja, esta foi a sexta safra, sem tanta preocupação qualitativa nos vinhedos, e o resultado foi um vinhaço, com excelente potencial de guarda. Ficou na mente de todos a expectativa de provar um vinho produzido atualmente daqui há 15 anos.
Vejam a cor do Merlot 1996! |
Na saída fomos presentados com uma garrafa do Merlot DO 2009 que guardarei cuidadosamente por mais alguns anos em minha adega.
In Vino Veritas!
Gustavo Kauffman
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