Em primeiro lugar convém não esquecer que as condições de armazenamento, em termos de temperatura e humidade, influenciam decisivamente a evolução dos vinhos. Veja este artigo que trata exatamente deste assunto. Mas, sabendo que cada vinho tem uma evolução própria, existem várias indicações que poderão auxiliar a determinar o estado em que se poderá encontrar aquela garrafa que está guardada, por vezes, com tanto carinho e até valor sentimental.
O primeiro indício a ter em conta é a própria data de colheita. Ajudará bastante ter um registo do momento em que o vinho foi adquirido, as circunstâncias da aquisição (conservação, de quem foi adquirido, etc.) e as suas próprias motivações. Também a tipologia do vinho poderá fornecer informações úteis sobre algumas características.
Os designativos teoricamente superiores de "Reserva", "Grande Escolha", “Colheita Selecionada” e outros traduzirão, à partida, uma qualidade que poderá assegurar uma maior capacidade de resistência ao tempo. No entanto, este último dado não deverá ser entendido como absoluto, sobretudo porque nestes designativos é muito importante atender à consistência do produtor, ao estilo de vinhos que segue e ao modo como os segmenta. Isto sem falar que estas designações, em muitos países, não seguem regras de qualidade, podendo ser utilizadas apenas por marketing. Assim, a maneira mais objetiva e precisa de se determinar o “estado de saúde” de um vinho é a análise organoléptica – a prova do vinho. Se existe um só exemplar, independentemente do resultado, não haverá nada a fazer. Obviamente, o ideal será termos algumas garrafas, especialmente se ficar comprovado que o vinho está em forma.
Uma forma didática de se abordar a situação será a partilha com vários amigos de garrafas em situação semelhante. Quando apenas temos uma garrafa de cada tipo ou produtor poderão observar-se alguns aspectos para tentar decifrar, embora de forma empírica, como estará o vinho. Por exemplo, se tiver um vinho de determinada colheita e tiver provado outro com a mesma data, adquirido sensivelmente na mesma altura, terá logo aí um ponto de referência. Também uma breve pesquisa literária ou na Internet, junto de especialistas, o poderão ajudar a descobrir se o vinho em questão terá um tempo aconselhável de consumo. Aqui entram as degustações Verticais, aonde provamos várias safras de um mesmo vinho.
Outra forma de análise passa pela observação direta da garrafa. Desde logo é importante verificar o nível do vinho no gargalo. Se reparar que este está mais baixo que o normal é um sinal desde já significa que precisamos ter uma atenção maior com esta garrafa. Outra possibilidade consiste em observar, através de uma fonte de luz, a tonalidade que o vinho apresenta. Quanto mais aberta e acastanhada a cor, maior o alerta. A crosta de depósito nas paredes da garrafa também terá algum significado. Quanto mais compacta e longa for, maior o “descasque” do vinho e, com isso, maior evolução. Apesar de, por estes tempos, os vinhos não estarem sendo produzidos com pensamento em longas evoluções, acredite que a sua adega pode ter boas surpresas…
Para guardar seus vinhos você não pode esquecer:
x Identificar, desde o momento da compra, se os vinhos em causa terão potencial de envelhecimento ou se, pelo contrário, favorecem um consumo quase imediato;
x O cuidado com o acondicionamento, mantendo os vinhos em condições adequadas de temperatura (nunca superior aos 16º) e de luminosidade (evitar a exposição directa à luz);
x Colocar as garrafas deitadas (com o vinho a permanecer em contato permanente com a rolha);
x Verificar, periodicamente, se a rolha continua a desempenhar bem o papel de vedante ou se apresenta sinais de deterioração;
x Evitar mexer, durante o repouso do vinho, várias vezes a respectiva garrafa;
x Estar atento à evolução do vinho em garrafa. Ao notar que apresenta sinais nítidos de evolução (cor, depósito, etc.), será preferível preparar a respectiva abertura.
Você possui vinhos antigos em sua Adega? Que tal prova-los?
Recentemente tive algumas boas surpresas com vinhos Brasileiros. Provei alguns exemplares com mais de 15 anos em garrafa (1996 e 1997) e os vinhos estavam simplesmente sensacionais. Dois exemplos foram um Don Laurindo Merlot 1996 e um Marco Luigi Merlot 1997. Em minha última estada nas Serras, provei também um Merlot da Angheben, da safra de 2000. O vinho estava delicioso!
E o que ganhamos com o envelhecimento do vinho? O que muda? Já falamos deste assunto aqui no Enoleigos, veja neste link!
In Vino Veritas!
Gustavo Kauffman (GK)
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