O verdadeiro cerne da questão é a preferência por vinhos de cor escura, encorpados, que cheiram e sabem a frutos negros (amoras, cassis, etc.), com uma estrutura firme de taninos – um estilo a que os franceses apelidam de “masculino”. Isto versus a preferência por vinhos mais delicadamente perfumados, mais leves, com notas de frutos vermelhos (cerejas e morangos), taninos finos e acidez refrescante – um estilo “feminino”, à falta de melhor nome. Após a minha primeira visita pela região do Dão fiquei impressionado como os vinhos tintos encaixaram tão bem no segmento dos Pinot Noir. Mais tarde, li que um perito do século XIX uma vez descreveu os vinhos do Dão como tendo um forte carácter de Borgonha, o que sugere que este traço estilístico está profundamente enraizado na região. E isso é bom, porque o Dão oferece claramente uma alternativa aos vinhos do Douro ou Alentejo que, obviamente, se inclinam para estilos mais fortes,masculinos. O que gosto no Dão é que muitas das castas não existem em mais nenhum lado no mundo e muitos produtores ainda utilizam antigos lagares de granito. Além disso, realço as vinhas antigas de plantações mistas que não foram arrancadas e replantadas como as vinhas na Califórnia ou na Austrália.
O Dão parece ter emergido de uma fase de transição e não está no meio de um período de experimentação, revitalização e redescoberta. O melhor é que permaneceu fiel às suas tradições, não perdeu a sua alma no processo.
A ELEGÂNCIA DO DÃO
Os estilos tintos do Dão são definidos pelas suas castas (Touriga Nacional, Roriz, Alfrocheiro, Jaen e Rufete), os solos de granito que fazem com que retenham a sua acidez natural e um clima que é mais fresco e chuvoso que no Douro e no Alentejo. Tudo isto faz com que preservem tanto a “frescura” como a longevidade pelas quais os tintos do Dão são famosos. As castas são muito interessantes. Ao contrário do que se costuma pensar, as pesquisas de ADN confirmaram que a Touriga Nacional teve origem no Dão e migrou depois para o Douro. Não contentes por roubarem um pouco da mística do Douro, as pesquisas também sugerem que a Baga teve origem no Dão antes de passar para a Bairrada. E, apesar de se poder assumir logicamente que a Roriz tem estado no Dão há muito tempo, parece que tal só aconteceu nos anos 90 do século XX. As castas mais tradicionais são a Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Rufete. Destas, a Touriga é a que reina, com aromas mais pronunciados, fragrâncias florais de violeta e um carácter mais definido, elegante e linear do que o encontrado em regiões mais quentes. E, enquanto a Touriga permanece o factor dominante nos “blends” do Dão, são as outras castas que necessitam de maiores cuidados. Luís Lourenço, da Quinta dos Roques e da Quinta das Maias, começou por fazer monocastas de Alfrocheiro e Jaen “para perceber o carácter de cada casta”, porque “não aceitava que tal não se pudesse fazer” só porque não era prática comum. O resultado é que uma grande parte de produtores está agora a fazer vinhos monovarietais, destas e de outras castas, muito convincentes. A solução tem sido encontrar o solo e o clima correctos para cada casta, de maneira que possa mostrar o seu melhor e manter-se sozinha. Jorge Brites, o enólogo do Centro de Estudos Vitivinícolas em Nelas, explicou a situação da Jaen: “Muitas vezes tem sido plantada em sítios errados, por isso é que não era respeitada nem considerada como uma casta principal.” O problema é que no sul do Dão amadurece demasiado rápido, faltando-lhe cor e estrutura. Por lhe faltar acidez foi relegada para um segundo plano, para acrescentar aroma e álcool ao “blend”.
Mas, se for plantada no norte e a uma maior altitude, mais fresca, a Jaen amadurece duas semanas mais tarde e, por isso, desenvolve uma cor mais escura, aromas mais profundos, taninos finos e uma acidez mais firme. O amadurecimento mais lento é a chave para fazer um vinho mais completo. O desafio tem sido encontrar o local certo para dar ao Rufete e ao Alfrocheiro uma oportunidade para igualmente se “manterem sozinhos” como vinhos. Os vinhos 100% Jaen mais convincentes que tenho provado são produzidos por Terras de Tavares de Pina, Quinta das Maias, Quinta do Lemos e Quinta das Marias. Enquanto os actuais colheitas de 2007 são mais maduros, audaciosos e ricos, na maior parte dos casos prefiro os vinhos da colheita mais fresca de 2006, que são mais equilibrados, com mais fruta e mais sedosos. A colheita de 2008 que provei, e que ainda não saiu para o mercado, foi mais baixa e fresca. Os vinhos têm uma relação de estilo muito clara com a de 2006, mas têm aromas mais complexos e uma melhor concentração. De forma semelhante, os melhores produtores de Alfrocheiro que provei foram a Quinta das Marias, Quinta dos Carvalhais, Quinta dos Roques e Borges. Todos partilhavam maravilhosos aromas e sabores a cereja, texturas sedosas e acidez frutada – qualidades que recordam a Gamay do Beaujolais ou um bom Pinot Noir do Novo Mundo.
O melhor para mim foi a possibiliddae de provar colheitas de 1997 de Terras de Tavares de Pina, Quinta das Maias e Quinta dos Roques. Em todos os casos, notas de fruta vermelha e uma acidez brilhante tinham dado lugar a aromas saborosos e intrigantes, texturas cremosas e finais longos. Os vinhos lembravam-me Borgonhas bem feitos e Grandes Reservas da Rioja. Se eles envelheceram tão bem a partir destas versões iniciais, até onde chegarão os vinhos de hoje?
Fonte: Paul White p/ Wine a Essência do Vinho
Olá,
ResponderExcluirconsidero-me fã do seu blog! Meu nome é Alexandre, sou redator e fotógrafo do Selo Reserva, novo site voltado para o mercado de enogastronomia. Estamos nos preparando para lançar a versão Beta e acredito que você gostará do conceito. Neste primeiro momento disponibilizamos uma página virtual de apresentação:
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Alexandre Sobral R. Horta
alexandre.horta@seloreserva.com.br
Oi Alexandre,
ExcluirObrigado pela visita e parabéns pelo projeto.
É sempre uma maravilha ver novas iniciativas no mundo do vinho, conte comigo!
Abs,
Gustaov