domingo, 11 de julho de 2010

Crônicas de um Enoleigo - Parte 2

Amigos,

Chegou Domingo e, como prometido, cá estamos com a segunda parte da divertida "Crônicas de um Enoleigo". Enquanto aguardamos a final da Copa (e quem será que ganha??), nada melhor do que dar algumas risadas, não é mesmo?

Para quem não leu, segue o link para a Primeira Parte das Crônicas de um Enoleigo.

Esperamos que gostem!!

In Vino Veritas!

(AK)

Crônicas de um Enoleigo - Parte 2

O prédio parecia ser aquele mesmo. Rua Baronesa de Itu, Higienópolis. O porteiro o deixou entrar, mas o olhar de censura para as sacolas plásticas de supermercado era indisfarçável. - É só para transportar a bebida, pensou Alberto. Enquanto isso, a cada passo seu em direção ao elevador o som das garrafas de vidro se tocando ressonava nas paredes do hall. E os vinhos, virando um milk-shake de uva...

Já no sétimo andar, Pedro o aguardava à porta e logo se apropriou das sacolas. Era seu parceiro da baia esquerda, na empresa em que trabalhavam. Passara um pouco dos trinta anos, tal como Alberto. Mas aí estava a única semelhança entre eles, pois provinha dessas famílias paulistanas ricas, era o bonitão do andar, cheio daquele charme da opulência financeira. O apartamento bem demonstrava isso.

- Belo sobrado... Logo elogiou Alberto.
- Obrigado. Respondeu Pedro.
- Só cheguei eu?
- Nada... Estão todos aí.

E cruzaram a sala principal em direção a uma porta que abafava a batida do “Samba da Minha Terra”, na versão do Bossacucanova. Ao correr, a porta revelou uma acolhedora sala de jantar em forma de barzinho. Três bancos altos perto da chopeira davam para uma mesa de madeira rústica rodeada de cadeiras de acrílico onde todos já bebiam chope, menos Suzana, que parecia tomar água.

- Finalmente! Exclamou um, mordiscando uma azeitona.
- Trouxe cerveja? Perguntou outro, apontando para as sacolas na mão de Pedro.
- Não, é o vinho...

A voz constrangida de Alberto era evidente, porém sua discrição era mais pela beleza que Suzana deixou transparecer ao se levantar, do que, propriamente, pelo recipiente que escolhera para transporta o vinho. Suzana nem o cumprimentou direito, e foi logo checar as garrafas.

- Sunrise... Escapou um sorriso, enquanto segurava a garrafa.
- Sim! Alberto a encarava nos olhos, evitando a atração que o decote da camisa provocava.
- Mas está quente...
- Como?!?
- Precisa ir para o gelo, Pedro.
- Vinho, no gelo? Aqui em casa a geladeira só tem cerveja, eu já tinha avisado.
- Para de bobagem... Eu coloco.

E enquanto demonstrava a Alberto um desconfortante conhecimento da casa de Pedro e, igualmente, sobre vinhos, todos voltaram atenção para os excelentes azeites e pães dispostos à mesa, rodeados de acepipes, deixando o papo fluir.

- Vai um chope, Alberto?
- Vou esperar o vinho... Gelar... Definitivamente, Alberto sabia pescar dicas.
- Pensei que ninguém ia me acompanhar, estou me segurando desde cedo.

Suzana finalmente dirigia a palavra ao proprietário das sacolas do Pão de Açúcar, já devidamente depositadas em um lixo qualquer. Mas a loira seguia ao lado de Pedro, que aparentava estar já no quinto ou sexto chope.

Uma meia hora depois, Pedro trouxe a primeira garrafa de Sunrise para a mesa e algumas taças. Suzana logo se manifestou.

- Pequenas demais, são de vinho branco Pedro...
- É?
- E o saca rolha?
- Aqui!

O aparelho era medonho. Duas hastes de aço escovado emoldurando um cilindro preto no qual um abridor de tampinha saltava por cima. Era uma versão chique daquele saca-rolha que se fixa pela boca da garrafa e, enquanto se enrosca, a broca perfura a rolha, as hastes vão se levantando, como uma bailarina amadora se olhando no espelho. Uma estética ímpar!

- Eu uso mais para abrir as Originais, mas deve funcionar.
- Pedro...
- Qual o problema?!?
- Nenhum. Desde que você abra.
- Eu?!? Por que não nosso enólogo??

Pedro passou o instrumento para Alberto, que se odiou por ter negado aquele chopinho... Acreditava saber usar o tal aparelho, mas o olhar crítico de Suzana o deixava cabreiro. Era agora ou nunca. Levantou. Quando já tinha posicionando o medíocre aparelho ouviu:

- Não vai cortar a cápsula?
- Hum...
- Vá em frente... Certamente o Pedro não tem cortador de cápsula aqui.
- Certo...

Esse tipo de saca-rolhas é traiçoeiro. O ingresso na rolha se dá com facilidade, logo as hastes estão levantadas, pedindo para serem baixadas. Quando isso acontece parece que a rolha sairá inteira, perfeita. Doce ilusão... Sempre sobra um pouco na garrafa, sendo necessários alguns movimentos pendulares bem leves para finalizar o processo. Alberto não sabia disso.

- Vai com calma senão quebra a rolha, disse um.
- Xi...
- Opa, devagar...
- Putz!

A rolha até saiu quase toda, mas um toquinho caiu no vinho enquanto Alberto foi consumidor por uma vontade enorme de se trancar no lavado.

- Viu só, senhor Pedro?
- Eu?!?
- Sim, você!
- Mas quem tentou abrir foi o Beto!
- Mas a culpa foi do seu saca-rolha!!!
- Como???
- Fosse um de duas fases certamente ele teria aberto sem problema alguma, não é?

Alberto fez cara de sério, concordando com Suzana, que já estava longe de Pedro, nitidamente irritada. E arrematou:

- Vai pegar um decanter e uma peneira, vai...
- Um o que?
- Deixa... Traz só a peneira!

(...continua...)

2 comentários:

  1. Tá bom... conseguiram que eu me manifestasse!
    Adoro o blog, acompanho as dicas e as receitas, a de salmão então hummmmmmm,e o penne com linguiça, nem me atrevo a dizer que ficou tão bom quanto a de vocês mais, as cronicas são minhas preferidas, estou amando... Parabéns!!!

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  2. Oi VM,

    Bom demais receber seu comentário por aqui! Vc não tem idéia como é gostoso sentir este carinho e saber que estamos podendo levar felicidade, diversão e prazer por aí.

    Continue comentando!!! Estes feedbacks nos motivam muito, pode ter certeza.

    Bjs,
    Gustavo

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