Depois de passarem uma semana degustando rótulos do Brasil, especialistas alemães recomendaram aposta em espumantes e vinhos tintos das variedades Merlot, Cabernet Franc, Marselan, Ancelotta e Teroldego para ter um diferencial competitivo no tradicional país consumidor de cerveja.
As vinícolas brasileiras devem apostar nos espumantes e nos vinhos tintos das variedades Merlot e Cabernet Franc como diferencial para terem sucesso no mercado alemão. A recomendação é de dois especialistas em vinhos da Alemanha, que foram contratados pelo projeto Wines From Brazil, realizado em parceria pelo (Instituto Brasileiro do Vinho) e pela Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), para uma consultoria técnica às vinícolas que pretendem entrar no concorrido mercado germânico – o maior importador de vinhos do mundo e o 4º país em consumo do produto, com 24,3 litros per capita por ano.
Depois de uma semana degustando produtos e conhecendo os produtores, Jürgen Mathäss, jornalista alemão especialista em vinhos, e o consultor Peer Holm, saíram muito bem impressionados com a produção vinícola verde-amarela. “Há muitos produtos de qualidade e uma boa regularidade nos espumantes e vinhos tintos”, disse Jürgen no seminário de apresentação de resultados, na última sexta-feira (20), no Ibravin, em Bento Gonçalves (RS). Os consultores alemães ainda apreciaram os vinhos tintos de cepas exóticas como Marselan, Ancelotta e Teroldego. “O consumidor alemão busca novidades. Por isso, aconselhamos não apostar em varietais tradicionais, que possuem excesso de oferta de todas as partes do mundo”, recomendou Holm.
Um vinho tinto em especial despertou paixão nos alemães: o Dal Pizzol Touriga Nacional. “É um grande vinho, que pode ser vendido a qualquer preço na Alemanha”. O rótulo custa cerca de R$ 30 no Brasil. “Eles gostaram tanto do vinho que pediram pra conhecer o enólogo e a vinícola responsável”, revela o assistente do projeto Wines From Brazil, Júlio César Gobatto.
Marca Brasil
Entre as recomendações dos consultores alemães para as vinícolas brasileiras, a principal é reforçar a marca Brasil nos rótulos. “O consumidor na Alemanha não compra por marca, mas sim por procedência de país”, ensinaram. O estilo geral dos vinhos brasileiros degustados por eles – com fruta fresca e álcool moderado – agrada ao paladar dos alemães, que estão cada vez mais buscando vinhos fáceis de beber. “Os alemães procuram vinhos autênticos e com boa relação custo-benefício”, observaram.
Há um grande potencial para os espumantes brasileiros na Alemanha, de acordo com os consultores. “O Brasil é um país simpático aos alemães, que lembra samba, carnaval, festa. E os espumantes representam justamente isso, festa”, comentou Jürgen. Ele disse que o consumo de espumantes vem crescendo na Alemanha. Hoje, está em 4 litros per capita. São 500 milhões de garrafas por ano. “Quase 70% dos alemães consomem vinho regularmente”, informaram.
Com alto poder aquisitivo, o PIB é de 21 mil euros, os 82 milhões de alemães, que formam a maior população da União Europeia, estão qualificando o seu consumo de vinhos. “Os consumidores estão mais interessados em aprender”, garantiu Jürgen. “Nos últimos 20 anos, a alta gastronomia desenvolveu-se bastante”, relatou. Atualmente, há nove restaurantes na Alemanha com três estrelas no Guia Michelin e 18 com duas estrelas. “O Brasil precisa sair da esquina [comunidade brasileira] e avançar sobre o mundo da gastronomia alemã”, recomendou Holm.
Entenda como foi feita a consultoria
A consultoria contemplou encontros técnicos com oito vinícolas, que aderiram à iniciativa do projeto Wines From Brazil – Casa Valduga, Campos de Cima, Cordilheira de Sant’ana, Lidio Carraro, Miolo, Pizzato, Salton e Santo Emilio. Conforme a gerente de Promoção Comercial do WFB, Andreia Gentilini Milan, Jürgen e Peer fizeram uma ampla análise dos produtos brasileiros, avaliando as suas potencialidades para competir no disputado mercado alemão de vinhos. “Cada empresa teve até 20 vinhos analisados. A avaliação é confidencial e foi entregue a cada uma das vinícolas”, informa Andreia.
Além de realizarem este diagnóstico da qualidade, estilo e dos preços (custo-benefício) dos produtos elaborados pelas vinícolas, examinando do conteúdo à embalagem a chance de eles terem sucesso na Alemanha, os consultores alemães analisaram 42 produtos (que obtiveram nota acima de 85 pontos na degustação às cegas) de 122 que já haviam sido escolhidos por 21 degustadores das empresas integrantes do Wines From Brazil, sob a coordenação técnica da ABE (Associação Brasileira de Enologia) e Emprapa Uva e Vinho. Os vinhos selecionados, em nove categorias diferentes, serão usados em apresentações institucionais na Alemanha.
Andreia lembra que este trabalho é semelhante ao que a argentina Nora Favelukes faz para o WFB nos Estados Unidos. “Queremos usar o conhecimento e a experiência destes consultores para melhorar cada vez mais nossas ações nos mercados prioritários dos vinhos brasileiros”, disse.
Histórico
Este ano, em março, Jürgen conduziu uma degustação de vinhos brasileiros na ProWein, em Düsseldorf, na Alemanha. Doze vinhos e espumantes das empresas participantes da feira (Aurora, Casa Valduga, Campos de Cima, Irmãos Basso, Lidio Carraro, Lovara, Miolo, Panceri, Piagentini, Pizzato, Salton e Vinibrasil) foram apreciados por 35 compradores e jornalistas especializados no estande do Wines From Brazil. Jürgen esteve no Brasil no ano passado visitando e conhecendo a produção verde-amarela de vinhos. Em cada um dos dias, foram degustados seis vinhos (um de cada vinícola participante).
“O Brasil é um país simpático aos alemães, que gostam e querem conhecer os vinhos vindos desta terra alegre”, comentou o jornalista alemão na degustação realizada na ProWein. Os espumantes agradaram a todos pela excelente padrão de qualidade. Os vinhos tintos surpreenderam os alemães. “Como o Brasil é um lugar quente, eles esperavam vinhos fortes e completos. Mas o que provaram foram vinhos leves, frutados e bastante gastronômicos”, comentou Jürgen, acrescentando que “foi uma agradável surpresa”.
Raio-X do mercado alemão
- População de 82,4 milhões de pessoas (9% de estrangeiros);
- 38,5 milhões de lares de pequenas famílias;
- PIB de 21 mil euros, com boa distribuição da riqueza;
- Consumo per capita de vinhos: 24,3 litros, estável nos últimos 20 anos.
- Importação em 2009 – 14 milhões de hectolitros (1,4 bilhão de litros), de um consumo total de 22 milhões de hectolitros (2,2 bilhões de litros). O consumo de espumantes soma 500 milhões de garrafas.
- 69% da população consome vinho;
- Não há imposto para vinhos, mas têm para espumantes (1 euro por garrafa);
- Itália, França e Espanha são os principais fornecedores de vinho para a Alemanha, dominando 90% das vendas;
- O restante do mundo detém 10% do mercado alemão. Destes 10%, 14% são vinhos do Novo Mundo. Em 1992, a fatia era de apenas 0,5% e em 2001 de 5%. Ou seja, está crescendo rapidamente.
- Quase a metade dos vinhos (45%) são comercializados por meio de descontos;
- As 50 marcas representam de 15% a 20% do mercado. Nos Estados Unidos, este número chega a 70% e na Inglaterra a quase 40%. Isto é, estão abertos a novidades.
Crédito das fotos: Gilmar Gomes / Divulgação / Ibravin
In Vino Veritas!
(GK)
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